Grupo de Estudos Benedito Nunes
GEBN/CNPq
Universidade Federal do Pará
Divulgamos na íntegra a entrevista "Um Minuto de Palestra...", dada por Clarice Lispector sobre o seu romance Perto do coração selvagem (1943), ao jornalista Edgar Proença em Belém (PA) e publicada na segunda página do jornal O Estado do Pará, na edição de um domingo, dia 20 de fevereiro de 1944, portanto há 81 anos.
Localizamos o referido texto em 15 de julho de 2025, depois de 18 anos de pesquisa pela entrevista. Essa, colocada em meio a várias matérias jornalísticas acerca da Segunda Guerra Mundial, foi concedida antes de Clarice Lispector ser reconhecida como uma das maiores escritoras brasileiras.
Semelhante entrevista acreditamos ser a primeira que a autora de Perto do coração selvagem concedeu a respeito do mesmo livro. Também deve ser inédita, pois integralmente não tivemos acesso ao enfocado texto em publicações especializadas, algumas das quais citam um breve fragmento e, muitas vezes, ainda de forma incorreta.
Ficamos felizes por termos descoberto a entrevista "Um Minuto de Palestra...", de Clarice Lispector, que muitos estudiosos desconhecem e ora entregamos ao público e à crítica. No ensejo, agradecemos às servidoras Denise G. Franco L. dos Santos e Normélia Gonçalves, propiciadoras de tal achado na Fundação Cultural do Pará (FCP) - CENTUR, importante espaço paraense de investigação acadêmica.
Maria de Fatima do Nascimento
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Profª. Drª. Maria de Fatima do Nascimento
Líder do Grupo de Estudos Benedito Nunes (GEBN) cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do Brasil junto ao CNPq
Site: www.gebeneditonunes.com.br
Coordenadora do Projeto de Pesquisa: Benedito "Benedito Nunes: Sua Crítica Literária sobre Contos de Maria Lúcia Medeiros e de Clarice Lispector"
Portaria; N° 172/2024 -ILC/UFPA, do Instituto de Letras e Comunicação (ILC)
1 LISPECTOR, Clarice. Um Minuto de Palestra.... [Entrevista cedida a] Edgar Proença. O Estado do Pará. Belém do Pará. Segunda Página, 20 fev. 1944.
Um Minuto de Palestra...
Clarice Lispector
Uma escritora jovem e cheia da inteligência é Clarice Lispector. Escreve com encantadora simplicidade, conhece todos os nuances da imaginação, tem tato intelectual. Dai a gente lê sem aborrecimentos, sem intermitência, os contos é a arte de Clarice Lispector.
Presentemente em Belém ao lado de seu ilustre esposo, cônsul Maury Gurgel Valente, tive oportunidade de conversar com a brilhante escritora a propósito de seu livro de estreia "Perto do Coração Selvagem". Ainda não o tive em mãos, mas conhecendo Clarice Lispector desde o Rio de Janeiro onde travamos relações de amizade, avaliei que o seu livro teria lugar de destaque entre as melhores produções do ano findo.
Eu não poderei falar de oitiva para afirmar o êxito de "Perto do Coração Selvagem". Mas, o depoimento insuspeito e autorizado de Adonias Filho e, de Guilherme Figueiredo, de Valdemar Cavalcanti, de Sérgio Millier e tantos outros vem apenas confirmar o excelente conceito que logo fazem os que conhecem a beleza intelectual e expressiva da jovem escritora carioca.
Sérgio Millier um nome acatado de crítico, adianta: "a obra de Clarice Lispector surge no nosso mundo literário como a mais séria tentativa de romance introspectivo. Pela primeira vez um autor nacional vai além, nesse campo quase virgem de nossa literatura, da simples aproximação; pela primeira vez um autor penetra até o fundo a complexidade psicológica da alma moderna, alcança em cheio o problema intelectual, vira no avesso sem piedade nem conceções, uma vida eriçada de recalques.
Basta isso para traduzir a sinceridade de um comentador e dos maiores do país.
Nos momentos em que conversamos, Clarice Lispector narrou-me como se processou a sua vida intelectual.
"- escrevo porque encontro nisso um prazer que não sei traduzir. Não sou pretenciosa, escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e catando, às vezes chorando...
Meus primeiros ensaios literários, a princípio, me intimidavam. Depois uma resolução imediata. Publiquei-os.
- Tenho os lido em "Vamos ler" e noutras revistas.
- Isso mesmo. Depois fiz o livro que é um pedaço da minha sensibilidade. Está satisfeito na sua curiosidade?
- Não. Quero saber ainda o seguinte: Como a crítica feminina recebeu "Perto do Coração Selvagem?"
- Muito bem. A Dinah Silveira de Queiroz foi tão generosa nos seus comentários!...
Não foi preciso prosseguir. Uma mulher, quando fala bem da outra, é porque fala com sinceridade. E Dinah, que é um nome fulgurante nas letras femininas brasileiras, é o melhor e mais lúcido depoimento a dizer sobre o talento de Clarice Lispector.
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Digitada por Maria de Fatima do Nascimento
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Profª. Drª. Maria de Fatima do Nascimento
Líder do Grupo de Estudos Benedito Nunes (GEBN) cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do Brasil junto ao CNPq
Site: www.gebeneditonunes.com.br
Coordenadora do Projeto de Pesquisa: Benedito "Benedito Nunes: Sua Crítica Literária sobre Contos de Maria Lúcia Medeiros e de Clarice Lispector"
Portaria; N° 172/2024 -ILC/UFPA, do Instituto de Letras e Comunicação (ILC)
1 LISPECTOR, Clarice. Um Minuto de Palestra.... [Entrevista cedida a] Edgar Proença. O Estado do Pará. Belém do Pará. Segunda Página, 20 fev. 1944.
XIX ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LITERATURA COMPARADA (ABRALIC), REALIZADO EM MANAUS-AMAZONAS, NO PERÍODO DE 1⁰ A 5 DE JULHO DE 2024.